Fotografia Urbana

A paisagem da vida mostra um deslocamento do olhar diante dos ambientes pelos quais o autor transitou e ainda transita, mas que nunca havia se atentado à sua aura contemplativa. Basta apenas olhar da forma certa que esses lugares cheios de vida, movimentos e barulhos podem ficar silenciosos, pacíficos e gerar uma contemplação extasiante e transformadora, .Busca-se transformar esses lugares nos quais sempre passamos correndo em lugares que gerem admiração e contemplação.

Túlio C. Mendes - Espera - 2013.





O Novo Conceito de Morar

Nos últimos vinte anos, os anúncios elaboraram o mito de um "novo conceito de moradia" a partir da articulação de imagens de segurança, isolamento, homogeneidade, instalações e serviços. A imagem que confere maior status e, portanto, a mais sedutora é a de uma comunidade fechada e isolada, um ambiente seguro no qual se pode usufruir dos mais diversos equipamentos e serviços e, sobretudo, viver apenas entre iguais.(CALDEIRA, 1997, p. 160).

O Novo Conceito de Morar, 2013.





Registro: passagem

Quis fazer uma documentação simples e direta dos pixos e grafites das passagens cento-duzentos do plano piloto, sem maiores pretensões estéticas.
Estas passagens se tornaram um espaço de exibição de arte de rua, em que as paredes são compartilhadas de maneira harmoniosa - raro ver rasura, no máximo interações, comentário - e, pela sua natureza literalmente imersiva de passagem subterrânea, oferecem uma experiência de galeria para o espectador. Mas isso com a diferença de serem, a princípio, desvinculadas de uma lógica de mercado de rede: autores anônimos, desinteressados em vender, com livre entrada, sem intermediação de curadoria nem crítica, numa relação praticamente direta (ou linear) com o passante que não faz também um papel de consumidor.
Achei interessante fazer uma documentação visual com data porque essas exibições são voláteis, mudando da noite pro dia, inevitavelmente desaparecendo, depois reaparecendo noutra forma, etc. Então se trata aqui de registrar apenas uma fase ou momento de um ciclo ininterrupto, não como tentativa de apropriação, uma vez que não há o que ser apropriado, mas apenas como exercício de fotografia para lembrar ou indicar coisas que, acontecendo, já estão passando.
Aqui no blog vai apenas a asa norte. A documentação não é exaustiva. Não vou apresentar todas as fotos no blog, mas vou disponibilizá-las num link para download.

Sem título, 2014.




As curvas de Niemeyer com o olhar de Athos Bulcão
No ano  de 1970 assisti a uma palestra com o arquiteto Oscar Niemeyer e o antropólogo Darcy Ribeiro. Foi algo que me marcou muito, principalmente quando o Niemeyer justificou o uso de linhas curvas em seus projetos. Ele diz  "Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios ..... nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein."               Sou morador de Brasília desde o ano de 1962 e essas palavras me acompanharam todas as vezes que via um prédio projetado por Niemeyer.                                                               De 1962 até 1914, são 52 anos com esse conceito formado em minha mente.                     Hoje procurando um tema para o presente trabalho não tinha como não ser, resolvi fotografar as curvas das obras de Niemeyer ou seja AS CURVAS DO NIEMEYER.               Pesquisei fotos de Brasília de renomados fotógrafos como Marcel Gautherot, Cristiano Mascaro, Olaf Heine, Thomaz Farkas, Salomon Cytrynowicz, Bento Viana bem como fotografias de outros fotógrafos que também tiraram fotos de prédios em outras cidades como Yann Arthus-Bertrand, Carlos Moreira, Cássio Vasconcelos, 
Com a máquina em punho percorri  Brasília tirando fotos de uma série de prédios, todos projetos de Niemeyer, totalizando  algo em torno de 1.000 fotos. Fotos em que eu procurei buscar detalhes das curvas por ele projetadas.                                                                       Com o material em mãos comecei a pesquisar como fazer a apresentação e aos poucos me dei conta que estava usando um agrupamento que lembrava o trabalho de um outro artista de Brasília. Athos Bulcão.
Como sou grande admirador do seu trabalho, mantive essa forma de agrupamento, acrescentando um detalhe do prédio fotografado onde as pessoas poderiam identificar de qual prédio eu usei as curvas.
Assim acrescentei algo mais no título do meu blog, passando a se chamar AS CURVAS DO NIEMEYER COM O OLHAR DE ATHOS BULCÃO.

Antônio Joffily - Palácio do Itamaraty - 2014




SQN 314 Bl. I

O objetivo do trabalho foi a realização de um estudo tipológico dos vários objetos e locações que compõe o prédio Bl. I da quadra SQN 314.
Tomando como base as coleções dos diversos tipos de construções industriais da Alemanha pelos Becher e as composições fotograficas cubistas de David Hockney, fotografei toda a variedade de diversos tipos encontrados no prédio (as plantas, o lixo, as janelas, etc).
Fragmentos de cada janela/planta foram compostos para criar composições complexas que comunicam toda  variedade e as diferenças que se apresentam entre as janelas ou as plantas do prédio, os diversos tipos de cortina, a variedades de folhas e alturas das árvores, etc.
O trabalho terminaria em um execução física da coleção de tipos, as fotografias dos exemplares de cada placa/lixo/planta seriam fixadas em uma placa com alfinetes, remetendo a uma coleção de insetos, onde espécimes de cada inseto são coletados para representar toda a variedade que cada animal contém, mas essa parte não chegou a ser realizada por falta de tempo.
Também foram cortadas por falta de tempo as representações das fachadas do prédio, das entradas e saídas e dos caminhos que se faz para ir e sair do prédio, ficando como parte do trabalho as plantas, as placas, o lixo e as janelas.

SQN 314 Bl I, Janelas.





Fotos Pós-apocalípticas

Neste blog abordarei o desgaste, descuido e abandono de construções e lugares públicos de Brasília. A ideia do blog não é fazer um apelo crítico a esse tipo de negligência da população ou do governo para com os espaços, mas sim explorar essa estética que se deslocada para uma temática fictícia abre portas para uma dimensão imaginária pós-apocalíptica, onde esses ambientes inóspitos trazem certa tensão e melancolia.

Flávia Lima, 2015.




Era uma W3

Outrora uma das ruas mais movimentadas da cidade, com comércios ativos e residências voltadas a uma classe média em ascensão, hoje a W3 Sul parece passar por um momento extremamente sombrio. As antigas lojas de tecidos e eletrônicos fecharam as portas e nunca mais voltaram a abrir. As fachadas dos apartamentos que ficam sobre as lojas parecem estar sem manutenção há décadas. As calçadas, antes tão disputadas pelos moradores da capital, parecem grandes demais agora.
Para um jornalista, as pessoas que frequentam (ou já frequentaram) a W3 Sul oferecem uma série de histórias que ressaltam a decadência já perceptível nos edifícios. Enquanto fotógrafo, as imagens falam por si só. A eternidade do clique faz jus ao estado de mumificação dos prédios – que já não esperam mais por dias melhores. Estar no centro da capital não foi suficiente para mantê-la viva. Ser parte de um Patrimônio Mundial da Unesco também não. O que mais poderia ser feito para salvá-la
As fotos foram produzidas ao longo da via durante uma tarde de 29 de outubro e uma manhã do dia 30 do mesmo mês. Em ambas as saídas o dia se encontrava nublado, fortalecendo a sensação de abandono do local. Ao todo, foram tiradas mais de cem fotografias. Como resultado final pode-se selecionar doze registros, que passaram a compor o ensaio chamado “Era uma W3”. São doze ângulos de uma rua abandonada para doze finais poéticos.

Paulo Lannes, Estética, 2016.




A cidade como suporte...

Este blog apresenta um panorama baseado na reflexão sobre as possibilidades e potencialidades dos elementos visuais relacionadas a cidade “como suporte” , tendo como base a cidade do Gama e o trajeto à Brasília, Distrito Federal no ano de 2016, vale apena  ressaltar que este blog surge como elemento para conclusão da disciplina Oficina de fotografia 1, do segundo semestre do departamento de artes visuais da Universidade de Brasília.
Palavras-chave: Arte, Cidade, Pichação; Grafite, Brasília.

Saulo Howstton, Sem Título, 2016.




Ao cubo

As possibilidades da fotografia parecem não se esgotar. E não nos referimos apenas às novas tecnologias que surgem a todo momento e que confirmam o tempo que vivemos como o da imagem. Mas, a pesquisa em fotografia é o que interessa ao blog AO CUBO, referência certamente à geometria e ao pensamento concreto/construtivo que permeia a nossa experiência visual.
Aqui procuramos dar continuidade a um processo que surgiu no início do século passado e que podia ter se esgotado, mas, como se pode ver, ainda oferece inúmeras alternativas.

Marco Túlio Alencar, Sem Título, 2016.




Projeto quadra

Dimensionando a cidade, Brasília carrega essa forma geométrica tanto como um vocativo quanto em sua disposição. O quadrado se expõe, recortando a arquitetura brasiliense com suas linhas e ângulos, solidificando quadras calculadas para modular a área candanga. A Quadra 312 Norte compartilha seus inúmeros quadrados e a sua beleza singular e modernista, cuja existência enaltece a precisão do retilíneo, inspiram este projeto. O objetivo é a tentativa de captar uma outra faceta do cotidiano, da arquitetura discriminada e do lado relativo ao intimismo, a janela.
Como um pontapé inicial para o projeto, o texto Os cantos de Bachelard foi utilizado como inspiração para iniciar ideias e invenções para o trabalho. O autor exprime seus sentimentos em relação ao canto, local onde me permitiu transgredir para outras formas/formações que é o próprio lar, uma forma geométrica e em seguida a quadra, tipicamente brasiliense. Tendo enfoque no texto, Bachelard exercita uma aproximação do canto enquanto um refúgio e, também, dando um significado para esse local como uma realização de uma operação de resgate feita por um personagem: aqui, o indivíduo realiza uma espécie de meditação, de acolhimento de si mesmo, debruçando-se sobre lembranças e sonhos, sendo acompanhado pela sua chaminé de pensamentos.
Esse recanto me fez pensar na possibilidade de um local com uma extensão maior que a do próprio canto. Daí vem o domicílio, que também carrega essas qualidades do canto expressas por Bachelard. Porém, não quis trabalhar centralizando somente o lado íntimo e doméstico, por isso ampliei para a arquitetura da quadra em si e busquei o mistério que as janelas guardam para o lado de dentro da residência.

Laís Menezes, sem título, 2016.




A fenomenologia do olhar

A discussão sobre a temática do olhar se faz presente e importante em um mundo onde tudo o que vemos e sabemos ter sentido passa por mediações simbólicas e processos cognitivos densos. A relação entre paisagem e olhar também traz a tona questões epistemológicas sobre a noção de situação em que um indivíduo é posto no mundo, além da ideia de existência, tempo e espaço, que perpassam construções lineares de milênios da história da civilização, algo além da divisão entre Oriente e Ocidente.
A noção de mundo e de tudo o que o indivíduo identifica nele é transcendente à noção de paisagem, uma vez que a paisagem só pode ser construída diante daquilo se que vê e enxerga-se, tendo os símbolos valores arquitetônicos e construtivos para a formação do mundo pelo indivíduo. Exercitar o olhar é também questionar-se a noção do que é paisagem e do que é mundo, onde reside a construção sobre a ideia de horizonte, objeto, figura e fundo. A poética dessa discussão se dá ao entendimento sobre o olhar estar acima de um sentido seleto e independente, já que ele reside num âmbito muito mais situacional e sensorial, sendo o olhar uma sensação, uma experiência de conhecimento, algo que floresce aquilo não pode ser visto, já que o olhar é algo além do que se vê.
“O ato de olhar significa um dirigir a mente para um “ato de “in-tencionalidade”, diz Bosi. A condição de consciência do indivíduo dá sentido ao olhar. O preceito desta discussão, portanto, é exercitar o olhar filosófico e usufruir da condição de indivíduo situado no mundo. O processo de captá-lo em imagem, portanto, torna-se algo além do mimético, algo que pode perpassar, também, a reconstrução da realidade, já que, no processo fotográfico, o exercício composicional é factível e as imagens tornam-se resultado do olhar filosófico aliado à técnica fotográfica. A série fotogrática, portanto, demonstra a experiência fenomenológica do olhar perante um mundo construído por um consciente comum.
A urbanidade, a sensação de imensidão, de arrebatamento e de horizonte; a ideia desértica, campestre e de profundidade. Tudo isso se faz questionável e indecifrável. E tudo passa ser aquilo que se sente, além do que se vê.
Tháylla Gomes, QI 9, Lago Sul, 2016.

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